segunda-feira, 29 de outubro de 2018

29/10/2018

Que fique claro o homem que vocês elegeram, que fique claro as palavras, os gestos e as ações, porque contra elas não existem agumentos, 'mitagens' e nem frases de efeito. Que fique claro o caminho excludente, preconceituoso e intolerante que nosso país hoje toma. Que com muito mais do que simples condescendência contou, mas sim, celebração e apoio de seu povo. Que fique claro o fim e início de uma nova era, turva e sombria, a desilusão perante a Internet e o que já foram promessas de um mundo mais conectado e esclarecido, hoje, com o advento das redes sociais, se tornaram verdadeiras prisões daquilo que nos agrada escutar, pensar e comentar (com a exclusão de todo o resto). Que fique claro o desmanche total do senso crítico, que poderia nos advertir em horas de insensatez e selvageria, de ambos os lados. O que me resta é um gosto amargo na boca, mesmo sabendo que a longo prazo tudo é aprendizado, mas como agride! Por enquanto, me contento ao lado de amigos e colegas, ao lado de quem desde muito novo aprendi a gostar de estar, as minorias, os menos favorecidos, que nem por um momento, se curvarão.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Minha primeira paixão portuguesa



São muitas léguas
Sim, léguas!!!
- Pois metros não são tão românticos quanto léguas -
Que separam você de mim
No outro lado do oceano azul

Perguntaram se a beijei
Minto
Digo que sim
Pois, às vezes,
A persistência é mais honrosa que o beijo
E merece ficar em paz
Sem constrangimentos
Por não ter conquistado um mísero beijo
De uma moça que nem sabia se queria beijar

Ah, moça do outro lado do oceano azul
Mais honroso que seu beijo
Levo minha mente em paz
E a lembrança
De um sorriso manso e alcoolizado
Dilatado de mechas louras
Da cor do sol do meio-dia


Levo também a frustração
Que tolamente aperta o peito
Pois nunca mais terei sabido
O que é beijar a tua boca

22/02/2016
 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Verso

to see beyond and lack your way out of words, until you no longer see poetry, but only bodies and souls.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Beto Carrero

Minha tez pré calva.
A adolescência por dias contados.
Teu sexo implícito e distante.
E os dias adultos ainda muitos por vir.
Desnecessariamente sérios e corteses.
Até que de novo me torne criança.
E morra infantil em teus braços.
Sem saber por que nem pra que.
Genuinamente surpreso e espantado.
Como aquela vez em minha primeira infância.
Quando fui ao Beto Carrero sem meus pais.

sábado, 9 de setembro de 2017

IRA




Eu só queria sair daqui, ir pra praia
Fumar um cigarro, tomar uma cerveja
Mas eu não tenho dinheiro pra nenhuma dessas duas coisas
Eu só queria sair desse lugar, me livrar desse barraco
Que não permite intimidade, pouco conforto
Ratos no assoalho e banheiro imundo
Onde estranhos passam o dia todo
Eu só queria sair daqui
Dizer um adeus pro meu pai
E pra essa relação complicada
Essa paternidade porcamente exercida              
Esse homem já velho, já gasto
Infeliz em suas escolhas
Mas o aluguel é caro
Elimina qualquer ideia de economia, poupança
Queria ser como meus amigos
Uma bolada gorda da herança da vó
Mesada na conta todo fim de mês
Pais importantes, formados, acadêmicos
Família de títulos
Venho de gente pobre
Sem nome, sem título
A origem assombra o destino
O corpo e a mente pedem
Castigo
Por crimes não cometidos
E a química cerebral é mais forte até que ponto
Os limiares da sanidade são válidos até que ponto
As doenças destroem até que ponto
E o livre-arbítrio, alguma vez contou
Alguma vez existiu?
Ou  a hierarquia fala mais forte,
Ou as relações de poderes e instituições milenares são paredões intransponíveis
Contra o livre-arbítrio do jovem bem aventurado
A doçura, o gênio, a inventividade contam quando se nasceu pobre favelado?
Ou pobre rural
Ou pobre urbano medieval
Ou pobre sempre a mesma coisa
É essa mescla complexa,
Espelho do comportamento humano
E já nos fizeram acreditar que tudo isso não tem jeito não
São condições além
São barreiras genéticas
De pai pra filho
Pau que nasce torto, morre torto
E a semente vingou
Fez enlouquecer milhares
Como se já não bastasse o surreal da vida
É claro que o pobre pode vencer
Pelo menos, é essa minha esperança
Eu sou apenas um rapaz latino americano
Sem dinheiro e sem parentes importantes
E isso nunca foi tão verdadeiro
E isso nunca foi tão localizatório
Não é a ira aos ricos
Nem mágoa tão pouco é
É apenas uma dor que machuca
É apenas um gemer auditivo
E o medo de se sofrer sozinho
Que ninguém quer ouvir
Por isso por vezes ressoa surdo
Eu sou eu
Eu sou meus problemas e meus fluídos
Que todos ditam comportamento
E se agora como um doce qualquer,
A indignação existencial parece ir embora
E a coisa mais importante, além da morte e da vida
O torpor das drogas pareceu calar
E de tabela arrancou meu lirismo
Com um corte um pouco acima da raiz
O grito ressoa em cabeças milhares
Espalhadas pelo mundo
Podem nos tirar tudo
As roupas, a vergonha, a dignidade
Só não nos tiram uma ideia
O solo da mente ainda é fértil
E a semente essencial germina em dimensões quaisquer






sábado, 26 de agosto de 2017

Hitler, budismo e kama sutra



Esta biblioteca tem muitos livros.

Mas não posso lê-los todos

Então minh’alma dói.

Ando nos corredores e vejo as estantes.

Agacho e ajoelho.

E vejo mais.

Hitler, budismo e kama sutra.

Produto do homem.



Como homem que sou,

Desejo ser parte desta biblioteca.

Então digo a bibliotecária.

Olá, sou Leonardo Nascimento, videirense e faço poesias.

E ela me diz, taciturna:

E o que deseja?

E eu lhe digo, nada odioso.

Desejo conceder minhas poesias à sua biblioteca.

Ela recusa e eu me afasto.

Confuso e cabisbaixo.

Olho para trás.

Ué, são tantos livros.

Agora tudo aquilo me amargura.

De poeta que sou e integrante da mocidade.

Não saio dali sem deixar meu sinal.

Escrevo na mesa dessa moça bonita,

O verso que soou tão bem para mim.

E a moça bonita retorna um sorriso.





A qualquer sorte de tipo que ali se sentar.

De mendigo a estudante.

Lerá a inquietante frase sem sentido.

E se perguntará que diabos de trem pode significar.

Hitler, budismo e kama sutra.

Pronto, agora sou parte da biblioteca municipal.

Leonardo Nascimento, videirense e fazedor de poesias.

Em algum mês do ano de 2014 acredito, odioso e revelador

Nota do autor: Esta poesia foi por considerável parcela de tempo, a minha preferida. Veio ao mundo das coisas, do jeito que gosto que as coisas venham ao mundo, leves e despretensiosas. Esta não levou nenhum pedaço meu, dos quais venho perdendo inúmeros desde os 14 anos e aos quais algum dia a consciência me lançará à procura, se agora mesmo já não a estou, arrombando portas sem prévia explicação, já que a ressaca do corpo e da mente não me pouparão pela manhã. Essa poesia foi escrita em tempos mais leves, para mim e para o mundo. Pois, se é verdade que a memória o passado abranda, também é fato que não houve aviso prévio ou manual para os últimos dois anos. Esta poesia brinca com as palavras, os temas, ao ponto de quase divertir-se, só não diverte-se de fato pois isso é coisa de seres humanos e não de textos. Textos têm cara sempre formal, pouco importam as palavras, de longe são todos a mesma coisa, sempre letras acompanhadas de mais letras, sempre uma superfície para se estar sobre, sempre um espaço linear a se ocupar. Ahh, mas assim são também os homens e pobre daquele que se pensa único. Estou divagando, mas isso também, está bem. A poesia, essa mesma, é uma criança travessa, quer vestir Hitler com tutu de bailarina só para pôr o povo todo a rir, pois ora essa, donde já se viu, um homem de tal idade e feição vestido feito uma menina, cantarolando pelas vielas do bairro.  Quer arrancar o budismo da sobriedade monástica por pura birra e mal criação e acima de tudo, quer ser criança por apenas assim ser.  
Talvez lhe ensine alguma coisa, lhe seja de algum uso, assim espero e se mesmo assim não for, tens aqui um texto e sinceros votos de sucesso e amor do autor que vos fala e que ao final deste parágrafo, calado aderirá à massa civil e ordinária circundante, que ao seu tempo também foram todas crianças, adoráveis e únicas.